Hyenna deforma, tem cheiro, solta as tiras
Hyenna é a promessa de um espetáculo. Uma forma de dizer que uma coisa vai acontecer ao invés de outra. Hyenna nos conta histórias como se estivéssemos na mesa de um bar; mas esse bar não é familiar, Hyenna gosta de botequins sórdidos onde seus argumentos encontram mais amigos. Se você não é acostumado a frequentar esses lugares, provavelmente vai se sentir deslocado nesse falso espetáculo: seu sorriso vai custar a sair, você vai se proteger, porque a raiva está no ar, sem uma prótese a afirme enquanto obra de arte. Hyenna diz o que vive no presente, os insultos existem em sua cabeça, como na rua, permanentemente. Ela divulga suas formulações sobre o mundo sem pensar em quem gostaria de escutar. Ela engasga, muda de cor, gesticula para fazer sua experiência ganhar corpo e intensidade, sem dó. Talvez seja a idade que permita a Hyenna ter muitas coisas para contar – “ela pertence a uma outra geração”, poderiam dizer. Ela sabe disso e não está nem aí – como a vida na rua não é fácil, fora dela não seria diferente. O rancor constrói a sua casa. A Hyenna nos obriga a ver o seu interior, “não há dor”, ela diz, porque também libera a fraternidade.
A Hyenna não ri sozinha.
A Hyenna entende o que o mundo pede.
A Hyenna nos ensina a falar “nós”.
A Hyenna é o centro das atenções.
A Hyenna sabe rezar quando precisa.
Os limites da Hyenna não são os nossos.
A Hyenna está adaptada.
Texto publicado no jornal 7x7, para a Bienal Sesc de Dança