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Sobre expectativas e promessas


© Cristiano Prim

Sobre Expectativas e Promessas é uma peça construída por duas pessoas; na realidade, por uma raposa e um cervo. Ambos com qualidades distintas; mas não se pode julgar o que está em cena, seria constrangedor. Seus universos, quase-selvagens, podem ser vistos apenas de longe.

Daqui onde estou, vejo o cervo amplificar um determinado ruído para acompanhar a raposa. Ela parece estar sozinha e incorpora sinais na frente de quem a observa equalizando sua forma de movimentar com o pensamento. Ela experimenta um monte de coisas que não se pode descrever, só olhar.

O cervo some de vista. A relação entre eles é relativa. Algumas pessoas poderiam chamá-los de Principal e Coadjuvante; outras, Maior e Menor – essas formas de nomear as figuras do mundo variam de acordo com as preferências pessoais. Como neste relato sou eu quem está narrando, prefiro diferenciá-los assim: Raposa e Cervo, porque, não se pode negar, um foi feito para o outro e ambos existem mesmo.

O Cervo solta um berro. A Raposa se desespera, fica brava, encontra aquilo-que-faz-sentido dentro do seu corpo e joga para fora. O Cervo amplifica a atividade sonora da Raposa. Depois de tudo o que foi dito fica impossível dizer: eu não ouvi (não escutar pode ser, também, uma opção pessoal). A Raposa pega o cabo da coisa-que-a-amplifica e a sacode de um lado para o outro dizendo: “isso aqui é meu e de mais ninguém” (sou eu quem entendi isso). O Cervo não se surpreende, parece acostumado aos acessos sentimentais de sua amiga.

Enquanto a relação entre os dois vai se construindo, uma luz complexa, ou talvez, prolixa aparece. Ela atinge o espaço como quando está de noite e é preciso acender uma ou duas lâmpadas para se aproximar de um determinado assunto. Olho para o lado e vejo que a Raposa discute consigo mesma fora do foco; mas, agora, sem abrir e fechar a boca.

Por fim, um objeto suspenso é iluminado. Quem se prende a ele, pode até vir a crer na fertilidade do encontro entre o-que-se-pensa e o-que-o-outro-está-pensando; mas, por estar certo de seu compromisso com o mundo, esse objeto deixa índices de um grande enigma: se o que se viu foi a revelação de um segredo ou se o que aconteceu pôde aliviar o ato de achar.

Por caçarem apenas o suficiente para alimentar um animal, as raposas são predadoras solitárias e não se reúnem em grupos.

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