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Eu precisava ganhar tempo


Acabamos de terminar um projeto intitulado Des Témoins Ordinaires (As Testemunhas Ordinárias). No interior desse projeto, desejamos construir uma reflexão sobre os traços deixados pelas violências da História no imaginário e nos corpos dos indivíduos que as viveram. Para tal, realizamos uma série de entrevistas com pessoas que conheceram os atos de tortura porque antes estávamos, por força desses fragmentos de vida, privados de compreender a História coletiva.

O que reteve a nossa atenção não foram propriamente os fatos históricos, mas a atitude que cada um toma em relação ao seu próprio passado e a maneira como a História influencia a reconstrução de uma identidade. Quer seja uma necessidade de amnésia ou de reinvenção desse passado, todas essas escolhas radicalmente opostas, refletem uma tomada de liberdade necessária para assumir um presente e se projetar num futuro.

Decidimos, então, aproveitar o “CoLABoratório” para iniciarmos uma reflexão onde “as testemunhas ordinárias” nos levarem: Às fronteiras da civilização e às portas da barbárie – nesse lugar em que as pessoas perderam por um instante o sentido de humanidade para serem entregues à tortura e que hoje se perguntam como partilhar uma tal experiência com quem não a conheceu.

Nos debruçaremos sobre os depoimentos realizados às pessoas vitimizadas pela tortura no Brasil no fim dos anos sessenta e início dos anos setenta a fim de procurar uma outra forma para testemunhar esse movimento de declínio sobre a humanidade. Para se fazer esse retrato, é necessário encontrar as palavras e as imagens para algo que é descrito como indizível e irrepresentável. É tentar captar a imaginação dos que sofreram essas atrocidades, para que essa experiência não perdure silenciosa. É também fazer a constatação da repetição das violências históricas quando, hoje, a tortura parece tolerável, legitimada nos modelos de democracia.

Esse projeto lida com a representação do limite da violência e das suas consequências.

Festival Panorama 2009

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